Sunday, May 08, 2005

Peloponeso - Parte 1

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O Peloponeso é uma península enorme localizada no mar mediterrâneo e representando a parte sul da Grécia. Como quase tudo no país gira em torno de sua mitologia, também o nome "Peloponeso" vem do herói mítico Pélops.

A península abriga muitas cidades que exerceram papéis fundamentais tanto na mitologia grega como na própria história da Grécia. Alguns exemplos:

  • Esparta - a maior potência do Peloponeso durante o século IV a.C., conhecida pela disciplina e bravura de seus soldados. Inimiga-mor de Atenas durante a Guerra do Peloponeso.

  • Argos- cidade dominante do Peloponeso durante o século VII a.C., fundada por Foroneu, cujo filho Argo deu à cidade seu próprio nome. Argos foi também o engenheiro da famosa nau Argos (assim chamada devido ao seu construtor), que abrigou os Argonautas (heróis em busca do velocino de ouro - 56 tripulantes entre os quais encontravam-se Jasão, Hércules, Orfeu, Peleu, Tétis e Atalanta). Até certo ponto o termo "Argivos" era usado para se referir a todos os gregos.
  • Micenas - Um dos maiores centros gregos da antigüidade, cidade da Muralha dos Ciclopes e também de Agamêmnon (ou "Agamenão"), chefe grego que uniu o país na luta contra Tróia, dando início à Guerra de Tróia.Hércules | Free Image Hosting at www.ImageShack.us

  • Neméia - Cidade onde os Jogos de Neméia se situavam, e área por onde circulava o Leão de Neméia, fera aterrorizante e irmã da Esfinge de Tebas (enfrentada por Édipo), cuja vida foi finalmente tomada por Hércules (o primeiro de seus 12 trabalhos).
E, entre outras, Olímpia, uma das cidades mais famosas da Grécia. Foi ali que os Jogos Olímpicos primeiro tomaram lugar, no ano 776 a.C..

As Olimpíadas
Os gregos sempre foram chegados ao esporte, e as competições e os jogos podem ser traçados na história até o segundo milênio antes de Cristo - ou seja, há cinco mil anos.

Taurocatapsia | Free Image Hosting at www.ImageShack.usNo início os esportes possuíam um caráter religioso e tinham lugar na ilha de Creta. Como demonstração de destreza e maestria, os esportes eram parte de cerimônias religiosas. Através dele os atletas apresentavam-se frente a sacerdotes, membros da família real e outros nobres. Três dos mais importantes esportes eram a quivístima, o boxe e a taurocatapsia.

Quando os famosos micênicos (dos quais, séculos mais tarde, Agamêmnon seria rei) chegaram à Grécia e se estabeleceram no Peloponeso, os esportes se desenvolveram muito mais rápido, visto que a sociedade micênica possuía um caráter clara e altamente militar. Isso significa que a luta e os atos heróicos eram considerados valores essenciais, e a força e a competição eram características de nobreza.

Os jogos então começaram a se separar da função religiosa - a noção de competição havia finalmente sido introduzida; e a importância da vitória, estabelecida. Vale lembrar que essas idéias estão presentes nas obras de Homero - na Ilíada o autor descreve, pela primeira vez na história, os jogos da/na antigüidade, em honra daqueles que foram de valor e que já se encontram na outra vida, e que também tomavam lugar para honrar os antepassados; já na Odisséia, os jogos aconteciam por inúmeras razões, como pela chegada dum estrangeiro a determinada cidade (Ulisses saiu-se muito bem nos jogos, à propósito).

Free Image Hosting at www.ImageShack.usMuitos anos depois os esportes passaram a ser válidos a qualquer cidadão atleticamente competente - antes eles eram restringidos a nobres e indivíduos de destaque na sociedade. A maioria dos jogos, então, tomavam lugar em pistas: corridas, arremesso de disco, arremesso de lança, arco e flecha, boxe e luta livre; e o mais popular de todos, corrida de cavalos (geralmente de quadrigas). O desenvolvimento foi tal que um sujeito chamado Ifitos fez um acordo com Licurgo (rei e famoso legislador de Esparta) e com Clístenes (rei de Pissa), cujo texto oficial foi gravado num disco e guardado no Heráion, um templo em Olímpia (mais informações sobre o templo no próximo post do Vida Grega).

O acordo foi de importância decisiva para o desenvolvimento do santuário como centro pan-helênico pois foi visto como "tratado sagrado" - ele determinava que todo o mundo grego deveria cessar as hostilidades enquanto os jogos Olímpicos tomassem lugar. Ou seja, não importa que tipo de guerra assolasse o país: era necessário estabelecer a paz por quanto tempo fosse necessário para que as Olimpíadas fossem realizadas, até o seu final. Aos vitoriosos era dado o cotino - ação essa considerada sagrada, pois tinha vindo como ordem direta do oráculo de Delfos.

As Olimpíadas tomavam lugar de quatro em quatro anos, durante o mês de Julho ou Agosto. Diferentemente de hoje, entretanto, o termo "Olimpíada" era usado para descrever o intervalo de tempo entre dois Jogos Olímpicos, ou seja: o meio-tempo de quatro anos. Apesar de, no início, os Jogos só possuírem um único evento (a corrida em volta do Estádio) a ter lugar num único dia, rumo ao século V a.C. os jogos estabilizaram-se em 5 dias e consistiam em 10 eventos: corrida, pentatlo, salto, disco, lança ou dardo, luta livre, boxe e pancrácio.

Image hosted by Photobucket.comOs Jogos Olímpicos foram de importância decisiva na história da Grécia: a unidade nacional, racial e espiritual dos gregos foi forjada graças às Olimpíadas. Isso porque elas combinavam o espírito religioso (foi daí que os esportes começaram) dos gregos com seu passado heróico (vide sua mitologia, permeada de figuras divinas), de forma que fosse criada uma unificação do corpo, da mente e da alma, no maior grau de perfeição possível, sempre tendo como base valores universais e filosóficos. Era o alcance desse objetivo que projetava o indivíduo (e as cidades que representavam) como detentor do maior ideal de liberdade e virtude.

Palavra do dia:

  • Ολυμπιάδα (pronunciada "olimpiáda"), que significa "olimpíada(s)".

Saturday, April 02, 2005

Grécia Parte II - Atenas

No meu último post falei um pouco sobre Atenas. Nesse aqui vou extender meus comentários e falar um pouco mais sobre a cidade, já que Atenas é um padrão helênico, uma marca de importância-mor, além de ser capital do país.

Gregos festejando! | Free Image Hosting at www.ImageShack.usAtenas é grande. Tanto em população como em tamanho físico (expansão da cidade). São muitos os bairros, as áreas, as vistas, as sensações. Eu moro num bairro chamado Ilíssia, cujo nome provém do famoso rio Ílisso, que cruza a Ática (região territorial onde Atenas se localiza). Esse bairro, por sua vez, encontra-se no Demos chamado Zografo.

O Demos é coisa antiga, vindo da Velha Grécia, coisa inventada há mais de 3.000 anos. A palavra é a raiz de "população", ou seja: algo como "povo". Inicialmente, na Grécia Antiga, não existia essa idéia de coalição, de unidade territorial que nós temos (e que eles têm, também) hoje. À época o que havia eram dezenas - ou centenas - de cidades (ou melhor, povoados ou demoi [plural de "demos"]) localizadas em áreas relativamente conjuntas. O país só foi tomar consciência de que existia determinada unidade política quando os gregos resolveram celebrar a existência de Zeus, Deus Pai, com jogos em sua homenagem, a tomarem lugar em MetrôOlímpia, cidade no Peloponeso. Esses jogos levaram o nome da cidade em que eram sediados, sendo chamados Jogos Olímpicos, terminando por ganhar o adjetivo "panelênico". Veja bem: "jogos panelênicos". Os termos "Pan", palavra grega para "tudo" ou "todos", e "helênicos", termo grego para "gregos" (a Grécia, em grego, chama-se Hellas ou Hellada - com o passar do tempo, o H caiu em grego, mas continuou sendo mantido nas outras línguas devido à influência do latim, que, diferentemente do grego, manteve o H mesmo quando não era pronunciado), mostram que os jogos incluíam todos aqueles que constituíam, em essência, o mundo grego. As primeiras Olimpíadas tiveram lugar no ano 776 a.C., e eram disputadas aproximadamente a cada 4 anos.

Mas voltando ao lugar onde moro, "Zografo" é uma palavra grega para "pintura", e o Demos hoje em dia se relaciona melhor à palavra "distrito", que é um tanto incomum no Brasil (basicamente não se usa, a não ser para se referir ao Distrito Federal) , mas que na França, por exemplo, é um termo de uso corrente.

Parlamento Grego. | Free Image Hosting at www.ImageShack.usIlíssia localiza-se relativamente perto do centro (15 minutos de ônibus, ou 3 minutos de metrô). A parte principal do centro é um bairro chamado Syntagma, palavra grega para "constituição" - o lugar levou o nome devido à praça onde se formou a constituição da Grécia Moderna, ao fim do Império Otomano (um dos impérios mais cruéis da história, obtendo domínio sobre a Grécia por 400 anos - quase a idade do próprio Brasil!). Ali também se encontram o prédio do parlamento grego e a estação de metrô Syntagma (que tem conexões entre todas as linhas de metrô), além da supracitada praça Syntagma, hoje ponto de encontro de muita gente.

Seguindo em frente, temos o bairro "Omônia", uma palavra grega de difícil tradução. Geralmente as palavras que melhor se adequam a ela na língua portuguesa são "concórdia", "coalescência" e "união", unidas à palavra "paz". A melhor maneira de definir "Omônia" é pedindo que se imagine um círculo de pessoas, onde todos dão-se as mãos, ao mesmo tempo em que estão felizes e irradiam muita paz e muito amor. Isso é exatamente o que a palavra significa.

Omônia | Free Image Hosting at www.ImageShack.usNo entando, esse é um dos maiores paradoxos. "Omônia" é mais ou menos como o bairro Comércio em Salvador. É um lugar mais pobre e, de certa forma, perigoso. Para padrões europeus, é claro. Pra quem vive no Brasil ou na América Latina é coisa normal e corriqueira. Aqui nem ao menos existem pivetes de rua ou aqueles moleques que lavam o parabrisa dos carros no semáforo. Uns poucos mendigos ali, uns drogados cá, e, sim, uns poucos garotos que pedem esmola. Mas é muito difícil passar disso. A Grécia, mesmo sendo considerada um país relativamente pobre em relação a outras potências européias (como a Alemanha, por exemplo, que tem uma moeda firme como rocha) ainda está muito longe da situação brasileira.

Vista interna do Museu. | Free Image Hosting at www.ImageShack.usUm lance que eu curto aqui em Atenas é o fato de que as estações de metrô são sempre museus. É, parece estranho, mas é verdade. E há uma explicação bastante fácil: o que rola é que pra se fazer um metrô, logicamente há que se escavar (fundo) a terra para construir os túneis etc. Quando isso acontece as construções são sempre interrompidas pelo simples fato de que onde quer que escavem, sempre são achados artefatos arqueológicos. E aí vêm os arqueólogos, isolam a área, estudam os materiais, o sítio, pesquisam, recolhem tudo e só então se é possível continuar com o projeto subterrâneo do metrô. Depois de todo esse tempo, quando as estações são construídas, o governo coloca à mostra, nos corredores, parte dos achados que foram descobertos no local, e todo mundo pode ver. É interessante.

Pra terminar esse post, não poderia deixar de faltar a história da cidade. Se você ainda não percebeu, os nomes Atenas (cidade) e Atena (deusa) são bem parecidos. Não é por acaso. Na antigüidade os diferentes povos geralmente adotavam uma divindade como patrono (protetor) da cidade em que viviam. Em troca dessa proteção, os habitantes ofereciam libações, sacrifícios e oferendas ao(s) deus(es) protetor(es). No caso de Atenas, quando começou a ser vista como um demo (uma sociedade), viram que precisavam escolher um deus protetor. Até aí é história. O que vem a seguir é mitologia: de acordo com a lenda, o povo da cidade não sabia se deveria optar por Poseidon (Netuno, na mitologia romana) ou Atena (Minerva, na mitologia Romana) como patrono do povoado. Foi aí que os dois deuses resolveram se engajar numa batalha, de modos que o vencedor sairia como adorado dos habitantes.

A batalha tinha caráter pacífico, sendo mais um teste utilitário - para que o povo pudesse ver o que ganharia com a proteção do deus - do que uma guerra bélica. Poseidon, deus dos mares, tomou a iniciativa: fincou seu tridente no solo, e dali água jorrou abundatemente. A população não poderia estar mais contente; afinal, viviam a uma distância considerável de qualquer contato com água. E logicamente a água é um elemento vital para qualquer ser vivo nesse planeta. Poseidon estava confiante!

Contudo, uma tragédia entrou em curso: os habitantes, ao se utilizarem da água provida pelo deus, notaram que era perigoso bebê-la, pois as árvores com cuja água haviam irrigado haviam perecido, e os animais que dela haviam bebido estavam mortos. Só então descobriram a causa: a água oferecida era a do mar, e salgada como tal. Não era possível usá-la na agricultura ou pecuária.

Deusa Atena. | Free Image Hosting at www.ImageShack.usAtena, de esperanças renovadas, resolveu dar aos habitantes uma plantinha, que terminou por crescer e transformou-se na oliveira. A descoberta foi de extrema importância, pois aquele povo percebeu que as utilidades das olivas eram intermináveis: ela poderia ser usada na alimentação humana e pecuária, o óleo podia proteger a pele e cuidar de certos ferimentos, e auxiliava até mesmo no processo de construção de casas (mais ou menos como se usava óleo de baleia para construir muralhas durante o descobrimento do Brasil), entre uma infinidade de outras propriedades. Não deu outra: elegeram Atena como entidade protetora do vilarejo e nomearam a cidade com base no próprio nome da deusa (como era de costume na antigüidade).

A batalha não poderia deixar de ser documentada, e o Parthenon acabou exibindo a luta em seu pedimento ocidental.

Pedimento do Parthenon mostrando a batalha entre Atena e Poseidon. | Free Image Hosting at www.ImageShack.us





Palavras do dia:

  • Αθηνά (pronunciada "Athiná"), que significa [a deusa] Atena; e
  • Αθήνα (pronunciada "Athína"), que significa [a cidade] Atenas

Saturday, March 19, 2005

A Grécia - Parte I

Free Image Hosting at www.ImageShack.usMuita gente me pergunta como é viver na Grécia. A pergunta é simples, mas a resposta... nem tanto.

A Grécia é um país onde as regiões são bastante diferentes entre si. Atenas é meio como São Paulo. Cidade grande (principalmente para padrões Europeus - 5 milhões de habitantes), de passo apressado, sempre muita gente pra lá e pra cá na correria casa-trabalho-casa ou casa-escola-casa (ou, em alguns casos, casa-escola-trabalho-casa), tráfego de louco, poluição (tanto olfativa quanto sonora, e, em muitos casos, visual também), aquela coisa toda. Por outro lado, exatamente pelo fato de ser cidade grande, é possível encontrar de tudo.

Primeiro, tem a população. Dá pra encontrar gente de quase todo lugar do planeta aqui nessa cidade. Pode pensar naqueles nomes de países estranhos tipo Azerbaijão, Cazaquistão, Mongólia, Bangladesh, Cambódia, Tajiquistão, Vanuatu... e por aí vai: não é brincadeira, aqui tem gente desses países todos, mesmo. Só citei alguns - achei legal quando conheci pessoas desses lugares.

Free Image Hosting at www.ImageShack.usSegundo, com a população vêm as línguas. Um pulinho ali no centro da cidade vai te render automaticamente uma viagem lingüística. Dá pra ouvir tudo quanto é lingua e dialeto na mãe Terra. Se você curtir línguas, sem a menor sombra de dúvida você vai achar alguém com quem praticar aqui. Eu tenho amigos da Ucrânia, Nigéria, França, Alemanha, Áustria, Suécia, Noruega, Japão, China, Armênia, Rússia, Romênia, Itália, Espanha, Dinamarca, Portugal, Sérbia, Croácia, Holanda, Marrocos, países árabes... não cheguei nem na metade e já cansei. Conheci até gente da Sibéria - um sujeito super gente boa, Vasilis.

Sibéria, imagine. Negócio impressionante. Eu, claro, pra não fugir da rotina, fiz aquelas perguntas de gente besta. Igualzinho ao estrangeiro que diz, "ah, Brasil! Vocês moram em árvores mesmo por lá?". Aqui é a mesma coisa. Se você não sabe, o que vai fazer? Tem que perguntar, mesmo. Eu fui nas raias do ridículo: "e aí? Lá é frio mesmo ou é só boato?" A gargalhada que ele deu me deixou até sem jeito. "Frio? Rapaz, tempo bom lá é 50 abaixo de zero." Eu devo ter feito uma cara meio besta, porque ele continuou explicando: "as pessoas às vezes dizem que somos frios também porque não costumamos tocar ninguém quando conversamos. Mas isso não é verdade. Simplesmente não podemos tocar ninguém porque a pele pode colar, e é muito difícil soltar. Só com água quente." Ele também explicou que é senso comum (mais ou menos como no Brasil a gente sabe que não deve deixar os pertences sem vigiar): não se toca, sob circustância nenhuma, em nada feito de metal, porque senão não dá pra desgrudar. E, segundo ele, dói. A valer. Imagine, um metro de neve quanto a situação é favorável ao transporte. Minha mãe, coitada, que quando dá 25 graus em Salvador, já está morrendo de frio... só de pensar na Sibéria deve pegar resfriado.

Free Image Hosting at www.ImageShack.usEu gosto de lugares assim, multi-culturais. Dá pra aprender muita coisa de muito lugar sem nunca ter ido lá. Como o pessoal gosta de falar da própria casa (país), é relativamente fácil obter informações. Eu, por exemplo, não tinha a menor idéia de que Tóquio pode ser uma cidade perigosa. Eu pensava que criminalidade no Japão era um negócio que praticamente não se via. Acho que toda cidade grande (Tóquio tem 10 milhões de habitantes) está naturalmente predisposta a sofrer de índices (relativamente) elevados de criminalidade.

Também não sabia que o inglês era língua oficial na maioria dos países índios, que o Sânscrito ainda é falado atualmente e que era possível comunicar-se em Aramaico. Ô coisinha de dar arrepio. Esse figura que eu conheci, Davi, era um seminarista que falava Aramaico fluente. E não estou dizendo que ele sabia rezar o pai-nosso ou que sabia umas palavras na língua, não. O homem falava (e me ensinou) coisas do tipo "qual a boa?", "abacaxi", "valeu" e "quem sabe faz ao vivo." Sabe mesmo, porque não é qualquer um que fala a língua de Jesus Cristo...

A Grécia é legal. É um país com muita coisa pra ser ver, muitos lugares pra se visitar e um povo muito louco. Cada dia é uma novidade nesse lugar. Vida de turista então... só alegria. :-)

A palavra de hoje é:

  • Ελλάδα (pronunciada "elládha"), que significa "Grécia".

Wednesday, March 16, 2005

Shows, discos e... baratas

Ticket pro show do Maiden! Clique pra ver. :-)Está longe ainda, mas o dia 21 de Junho é o Dia D. Daqui a três meses e meio rola, aqui em Atenas, o show do Iron Maiden, tour do Dance of Death. Não tenho dúvidas de que vai ser bom! Só é meio chato esperar. :-)

Também é chato esperar o novo disco do Shaaman, "Reason", que está previsto pra sair dia 27 de março no Brasil. Como a responsável na Europa pelo lançamento do petardo é a AFM, talvez demore de sair aqui - geralmente os lançamentos rolam em Abril ou Maio. Vou ter que baixar as músicas pela Net até comprar o CD, porque não dá pra esperar dois meses a mais [suspiro]. Vida de dial-up é fogo. :)

Reason: novo disco do Shaaman!No início de Março (dia 6, salvo engano) rolou uma entrevista com o grupo no Backstage, o programa do Vitão Bonesso na rádio Brasil2000. Lá eles explicaram o porquê da mudança de nome ("Shaman" pra "Shaaman") e algumas outras coisas. Foi interessante. O que não diz na entrevista é que eles, quando foram trocar de nome, chegaram até a consultar um xamã de verdade, um certo Santo Darem, da Amazônia, pra ver se o novo nome dava pé. Pareceu que deu, porque já estão de nome novo e lançando o novo CD, agora por uma outra gravadora, a Deck Disc. Eu gostei das músicas que já estão na Net ("Turn Away", "Trail of Tears", "Innocence"). O disco tem potencial!

* * *

Esse dias fiquei fulo! Achei duas baratinhas dentro do meu forno microondas. Eram minúsculas, realmente (seriam bebês-baratas?!), mas nem por isso deixam de ser baratas. Fico pensando como é que pode! E vou dizer: aconteceu logo depois de eu ter usado o dito-cujo, ou seja: estavam lá dentro durante o aquecimento, mesmo, aparentemente felizes e contentes.

Que negócio intricado! Eu também já presenciei formigas e moscas dentro do microondas durante o aquecimento, e nada aconteceu. Segundo uma teoria, isso tem a ver com a quantidade de água no organismo dos bugs. Quanto menos água, menos eles sofrem com as micro-ondas. Ainda não chequei essa informação, portanto não sei se é verdade. Mas ao menos sugere uma explicação. O que eu chequei foram algumas informações sobre baratas. Acho que todo mundo já ouviu alguma vez na vida que baratas são resistentes a radiação, e que (essa é famosa) se houvesse uma guerra, as baratas seriam as únicas sobreviventes.

O que eu descobri foi que não há nenhuma publicação científica oficial que discuta o assunto com credibilidade. Um cientista chamado Joseph G. Kunkel irradiou baratas e fez outros experimentos usando radiação gama (você pode ler a respeito da experiência, em inglês, aqui). Entretanto, ele nunca comparou a resistência das baratas à radiação com a de nenhum outro organismo usando o mesmo equipamento - e que, por isso, segundo ele, não seria possível responder a um questionário sobre resistência relativa (barata vs. outros insetos).

Segundo Kunkel, insetos em geral seriam relativamente resistentes a radiação em comparação a seres vivos não-insetos ou, mais especificamente, não-artrópodes. As vidas de insetos e outros artrópodes têm como base fundamental o "molting". Eu não sei como é a palavra em português (se houver um professor de biologia por aí, help), mas sei o que é o fenômeno: é quando artrópodes, crustáceos e répteis trocam suas "peles", aquela proteção externa que possuem. Veja bem... há um fenômeno aparente com, por exemplo, gatos: em certo ponto eles perdem o pêlo e ganham outro, diferente. Esse é um outro fenômeno. O "molting" é relativo à classe dos artrópodes, crustáceos e répteis - pelo menos é o que aprendi. Como esse fenômeno não é explicado na página em que vi, não posso oferecer detalhes.

De qualquer modo, existem ciclos de "molting". Durante esses ciclos o que acontece é que as células do inseto dividem-se (multiplicam-se) uma única vez. Existe uma lei, chamada Lei (de) Dyar, que diz que insetos dobram de peso a cada ciclo e que, assim, suas células dividem-se apenas uma vez a cada um desses ciclos.

Veja bem, o ponto-chave aqui é que as células são mais sensíveis a radiação quando estão em processo de divisão. Basicamente esse é o princípio usado para destruir células cancerígenas: essas células tendem a se dividir muito mais freqüentemente que outras células do nosso corpo. Com certa dose de radiação é possível destruir mais células cancerígenas que células normais. Com a dose correta usada no tipo certo de câncer é possível destruir todas as célula cancerígenas, prejudicando apenas algumas das células normais (algumas células normais tendem a se dividir mais rapidamente do que outras, como por exemplo as células da medula óssea e glóbulos vermelhos usados na regeneração de tecidos).

Os dados mostram que se uma barata tem, digamos, um ciclo por semana no máximo, suas células se dividem num período de 48 horas nessa semana. Isso significa que 3/4 das baratas não teriam células sensíveis a radiação em qualquer outro período. Se tanto baratas como pessoas fossem expostos a determinada radiação nociva, então 3/4 das baratas poderiam sobreviver, enquanto nenhum dos humanos sobreviveriam, dado que a raiz de nossos glóbulos sangüíneos e de nossas células do sistema imunológico reproduzem-se constantemente.

Concluímos então que a radiação afeta células reprodutivas. Se as células não se multiplicam, a radiação ou não nos afeta, ou nos afeta em menor escala. Portanto, se submetidos a uma radiação nociva constante, todos os animais com células reprodutivas morreriam.

Ou seja: as baratas morrem por último.

Malditas sejam!

* * *

A palavra de hoje é:
  • συναυλία (pronunciada "sinavlía"), que significa "show", "concerto", "espetáculo."

Monday, March 07, 2005

Fotos na Net!

Eu em frente ao prédio da Universidade Central, no centro de Atenas. Clique para ir ao meu álbum de fotos. :-)

Fiz meu álbum de fotos virtual!

Eu assumo: tive a idéia só recentemente (noite passada, na verdade). Mas antes tarde que nunca, certo? Dei uma passada no Fotolog e estava dando uma olhada nos Flogs do pessoal. Como sempre me pedem por foto, resolvi fazer meu próprio álbum e colocar à disposição de todo mundo. Tem fotos minhas nas ilhas, na Grécia continental e em Atenas. Dá pra escrever comentários nas fotos e até votar. :-)

A palavra de hoje é:

  • λεύκομα (pronunciada "léfkoma"), e significa "álbum". :-)

Sunday, March 06, 2005

Entramos em Março

Recentemente vi uma PC Magazine na banca de revistas. Não precisa nem dizer, mas como seguro morreu de velho, eu digo: PC Magazine é uma daquelas revistas de computador, geralmente acompanhadas de um CD. Essa não era exceção – resolvi comprar a danada pelo CD.

Chegando em casa, abri a revista e comecei a ler. E quem diria, uma das reportagens de capa era sobre o Blog (“Agora Blogamos!”). O Blogger tava lá, em primeiro lugar, seguido pelo LiveJournal. Eu tenho que admitir que até considerei hospedar meu blog lá, no LiveJournal, mas terminei optando pelo Blogger mesmo, e aqui estou.

Anyways
, li a matéria e deu vontade de dar um pulinho aqui pra atualizar o Vida Grega.

.:Novidades:.
Como o verão grego está se aproximando, as férias também estão. Talvez o povo não se dê conta, mas como estou em outro hemisfério, as estações são invertidas – temos o verão no meio do ano, e em dezembro é inverno. Se você acha isso muito estranho, é só pensar em qualquer filme de Hollywood, sempre mostrando neve como sinônimo de Papai Noel. Isso porque lá é inverno em dezembro.

Bom, o fato é: se as férias estão chegando, isso significa que há a possibilidade (possibilidade, veja bem!) de eu voltar ao Brasil nesse período adidático. Minha irmã já anda espalhando que meio do ano eu estou na terrinha, firme e forte. Enquanto eu gostaria que isso fosse um fato, infelizmente ainda não é possível afirmar com certeza o que acontecerá. Mas estamos no processo, tentanto fazer com que as coisas aconteçam. Como diria Seinfeld, the wheels are in motion.

Tem mais: parece que meus pais, por não terem computador no momento, resolveram desligar o provedor (Terra), de modos que a Phosphoros não pode ser atualizada. Felizmente eu consegui terminar uma página que ensina a ler grego. Ler grego, veja bem, não entender ou falar. Só ler, ou seja: você vai poder ao menos ler e pronunciar as letrinhas do alfabeto grego, e conseguir ler até palavras inteiras, ou frases. Claro que é um tutorial básico voltado para completos iniciantes. Se você nunca teve contato com o grego, é provável que a aulinha seja de boa valia.

***

Tem um tempo que eu descobri que ler revistas em quadrinhos dão a maior ajuda no aprendizado de línguas estrangeiras. Bom, logicamente que qualquer material em que você se interesse ajudará; mas eu senti na pele a influência das HQs. Elas são escritas numa linguagem acessível, com vários termos e expressões que são utilizados no dia-a-dia, com um elóquio corrente e descontraído. Diferentemente de textos científicos e/ou acadêmicos, por exemplo, que terão palavras pouquíssimo usadas no dia-a-dia, sem falar nas expressões. Usar-se do vocabulário científico na rua é a mesma coisa que pedir que riam de você, ou que não entendam que diabos você está dizendo. É preciso adaptar o texto ao contexto. :-)

Tio Patinhas. Clique para ver.Comecei lendo Mickey Mouse e Tio Patinhas. Mas só depois é que fui notar a presença de Conan, sentado ali junto às outras revistas. Que achado! Quem diria, depois que li a revista percebi que o estilo usado pode ser, dependendo do contexto, tanto informal quanto formal. E as construções são perfeitas, a língua usada ali é de atestada beleza. Talvez seja verdade que não as possa usar no quotidiano, mas o vocabulário, sim. É palavra pra inferno. E mais: muitas delas se adequam perfeitamente ao meu curso (História e Arqueologia). Muitos dos termos eu ouço diariamente nas aulas. Conan sem dúvida foi uma descoberta e tanto. No caso de uso mais simplístico e corriqueiro, eu posso ler Tio Patinhas. Apesar de que eu tenho que admitir: que falta da Turma da Mônica!

***

Bom, é isso aí. A palavra de hoje é:

  • Ζωή (pronunciada zoí), que significa "vida". :-)

Saturday, February 05, 2005

Contatos Imediatos do Estranho Grau

A Grécia é um país engraçado. Muita coisa estranha acontece por aqui. Atenas, cidade de 5 milhões de habitantes, guarda um poço de curiosidades - tanto compreensíveis como totalmente sem sentido.

Mas não é da Grécia que vou falar hoje. Vou abranger um espaço maior e falar por dois minutinhos dos Estados Unidos, que me fascinam.

.:E.U.A.:.
Ô paisinho estranho. Quem se lembra daquele incidente onde um garotinho no jardim de infância (ou alfabetização? de qualquer modo, não deveria ter mais que 8 anos) beijou a coleguinha? Foi um deus nos acuda... processo pra cá, multa pra lá... no Brasil o assunto estava na boca de todo mundo.


Eu já sabia que o problema com crianças era severo nos EUA, mas só recentemente fui descobrir que o contato físico entre adulto e criança é
proibido.

Isso é um assunto sério. Digamos que um professor esteja diante de duas crianças engajadas em pleno ato de pugilismo - ele não pode fazer nada. É proibido tocar nos garotinhos. Ou digamos que você seja um salva-vidas no clube, sentado à beira da piscina, vigilante. A não ser que você peça permissão aos pais para salvar a criança, ou que ela esteja inconsciente, não é permitido entrar na piscina e salvar os pequenos se os pais estiverem presentes (ainda que estejam dormindo ao sol).

Parece estranho (surreal, na verdade), mas os exemplos aí em cima são verdadeiros. Fico imaginando como deve ser para os professores, que em vez de darem amor aos alunos, se sentem aterrorizados, e não podem nem ficar a sós com os estudantes na classe ou no escritório porque podem ser processados.

Tem mais. Recentemente, no Colorado (EUA), duas adolescentes (Taylor Ostergaard, 17; e Lindsey Jo Zellitte, 18) foram processadas por oferecerem biscoitos a uma vizinha. As duas fizeram os biscoitos para preparar uma surpresa para os vizinhos no dia 31 de Julho e deixaram cestas em frente à porta da casa de cada morador da vizinhança, com um coraçõezinhos em vermelho ou rosa com uma mensagem que dizia "tenha uma ótima noite." As meninas tiveram que pagar 900 doletas na corte depois que a vizinha Wanita Renea Young (49) processou as duas, reclamando que nunca pedira biscoitos e que a surpresa causou um ataque de ansiedade que a levou ao hospital no dia seguinte. Uma das evidências usadas contra as garotas no julgamento foram as cartas de 6 vizinhos, que escreveram para Taylor e Lindsay agradecendo pelos biscoitos.

Como as coisas evoluem até chegar nesse ponto? É possível chamar o fato de "evolução"? Isso assusta, pra dizer o mínimo.

.:Macacos pagam por Pornografia?!:.
"Você pagaria para ver o traseiro de um macaco? Espero que não." É assim que começa um artigo publicado pela INTL (International News Tracking Log). De acordo com um estudo feito recentemente, macacos do gênero masculino abririam mão de recompensas em forma de suco para dar uma olhadela em fotos de macacas mostrando o... bem, o traseiro. Pelo modo como o experimento foi elaborado, o ato de abrir mão do suquinho seria o equivalente a pagar pelas imagens, de acordo com os pesquisadores. Da mesma forma, foi necessário pagar aos macacos (claro, também em forma de suquinho) para que olhassem fotos de macacos de hierarquia menor.

"E essa pesquisa pornográfica é pra quê, mesmo?", você se pergunta. De acordo com os pesquisadores, tem a ver com autismo. "Um dos problemas principais em autistas é que para eles não existe uma motivação em olhar para outros indivíduos", diz Platt, um dos cientistas. "E mesmo quando olham, eles parecem não avaliar certas informações, como a importância do indivíduo, intenções e expressões." Os macaquinhos, portanto, providenciariam "um excelente
modelo de como a motivação social em observar é processada em indivíduos normais. (...) E é um modelo que pode ser usado para explorar os mecanismos neurofisiológicos dessas motivações de uma forma que não pode ser feita com humanos. Por exemplo, podemos usar drogas que afetam processos neurais específicos para explorar a possibilidade de reproduzir o elemento em falta no organismo de animais autistas." Muito bem.

.:Last Word:.
Tive uma idéia essa semana. Tem outros blogs por aí de gente que vive em outro país. No final de cada post eles sempre dão uma palavrinha na língua nativa do país onde se encontram. Achei que seria legal fazer o mesmo com o Vida Grega. Então, lá vai. A palavra de hoje é:

  • αγάπη (pronunciada mais ou menos "agápi"), que significa amor. :-)


The United States is a nation of laws: badly written and randomly enforced.
- Frank Zappa (1940 - 1993)

Thursday, January 27, 2005

Ο φοίνικας αναβιώνει απ'τις στάχτες του!

É, eu sei! Tem realmente muito tempo.

Mas é assim mesmo, nem sempre na vida temos a oportunidade de fazer o que queremos quando queremos. No mais a mais, nem sabia que tinha gente que lia esse blog - sério, não é hipocrisia! Achava que só a família lia esse negócio. Fui descobrir que o blog tinha leitores quando conversei com Hyor no fim do ano passado. Ele me disse que o povo andava perguntando porque o Vida Grega não estava sendo atualizado. Recentemente (acho que há uma semana) encontrei Invoid no MSN - o dito cujo tinha me mandado e-mail pedindo para adicioná-lo à lista. Lá ele me fez a mesma pergunta: "e o blog? Morreu?"

Bom, não. Não morreu. Ou, se morreu, está ressuscitando. Vou tentar postar mais freqüentemente - à propósito, por "freqüentemente" eu quero dizer "não tão raramente quanto um post a cada 6 meses". Infelizmente não é tão fácil pra mim atualizar o Vida Grega a cada semana (bom, eu até posso fazer isso, mas serão posts de uma ou duas linhas - ou seja, não vão dizer muita coisa...), então vou tentar fixar isso na base de uma vez por mês.

Tudo bem, você deve estar pensando, "sujeito folgado esse... uma vez por mês?", mas é vero:
  • eu passo basicamente o dia todo fora de casa. Tenho aula das 9 da matina até as 6 da tarde. Às 6 vou pro restaurante da facul, e só estou em casa por volta das 8 da noite;

  • quando chego em casa estou tão cansado que não quero estudar, pensar, calcular ou me organizar em nada (isso inclui pensar e organizar uma nova entrada pro blog); e

  • quando sobra tempo livre, não quero fazer nada, porque... bem, porque uma hora a gente cansa de estudar, e também porque sou filho de deus. Sombra e água fresca, aquele "não-fazer-nada-zinho", é bom! :-)


Anyways, vamos às...

.:Novidades:.

Tem muita coisa, então temos que separar o trigo do joio. Vou tentar fazer um rápido wrap-up da coisa toda e updatear todo mundo.

Cheguei em Outubro de 2003 e, como não tinha lugar pra ficar, me hospedei com amigos gregos até achar um apartamento pra alugar. Procurei por dois meses até achar alguma coisa custeável - os preços variam geralmente entre 350 e 600 euros. É possível achar mais caro... e mais barato. O problema é que os mais baratos se localizam no centrão, alguma coisa como a Praça da Sé de São Paulo, ou, bem... a Liberdade, em Salvador.

Ok, ok. Liberdade é exagero, porque não existe coisa assim na Grécia (imagino que não exista na Europa inteira), mas, bom... apesar de não haver coisa de muito baixo nível por aqui também não é muito legal tentar a sorte e me meter em qualquer buraco que aparecer. Terminei achando um apê legal pertinho da faculdade, e perto do centro também (só 5 minutinhos de metrô, nem precisa fazer baldeação). Sorte porque os apartamentos perto da faculdade são os mais caros - lógico, o povo vem das ilhas da Grécia pra estudar em Athenas e têm que alugar um lugar pra ficar. Então os preços sobem. Geralmente estão na faixa de 600 euros, enquanto que esse aqui custa 200.

Resumo: no comecinho de janeiro saí da casa do meu amigo Efthymios (o grego que me hospedou quando vim à Grécia em 2000 e em 2002 - e, bom, de Outubro a Dezembro de 2003) e me instalei por aqui, onde tenho estado ever since.

Nesse período eu já estava em aulas. Aulinhas de grego, mesmo. Antes de ter aulas na universidade era necessário passar por um período semestral de aulas. Assim, logo no começo encarei 6 meses de grego na cabeça, com direito a um exame de proficiência a ter lugar logo após o término das lições - se quiser, pode dar uma olhadela nos meus testes e redações.

Aliás, a prova final foi tanto escrita como oral. Trabalho em dobro.

Mas tudo foi bem. Eu passei, e tive o verão pra mim. Esperei até que as aulas na universidade começassem.


.:E o Brasil? Esqueceu?:.

Todo mundo me pergunta: "o que aconteceu?", "não voltou pro Brasil no verão?", "cansou do país?", "não quis rever a família?", "e os amigos?", "foi o dinheiro?", "a passagem?", "a distância?", "o sucesso?", "a fama", "o estrelato?" E, definitivamente, a frase que mais ouvi: "você ainda vive?!"

Vivo, sim. Faço das minhas as palavras do Helloween: I'm Alive!

O problema é que tive algumas dificuldades com os documentos. Aprendi que o visto (aquele pelo qual lutei tanto quando estava no Brasil - tive que ir pro Rio de última hora por causa dele) só durava 3 meses, e tinha que conseguir um visto de permissão de residência - o famigerado permit. Que, deixe-me frisar, não é a mesma coisa que um visto, ou visa. O visto é simplesmente uma autorização de entrada no país; já o permit é uma autorização para residir legalmente no país. Ou seja, com um visto do consulado eu posso vir à Europa e permanecer na Grécia (ou em qualquer outro país, contanto que faça parte da união Schengen) por um período de 3 meses. Logicamente, se você viaja ao estrangeiro para fazer um curso de graduação levará muito mais que três meses - no meu caso, 5 anos. Ou seja, estarei então residindo no país, e, portanto, será necessário um visto de residência (olha o permit aí!), e não um visto de entrada (visa).

Dei entrada no tal do permit, mas o danado nunca saiu. E, portanto, não seria possível sair do país (porque sair eu até poderia, mas não poderia mais voltar, já que, teoricamente, passei mais de 3 meses no exterior sem um visto de residência). O resultado é que negariam minha entrada no país, e eu seria trazido de volta ao Brasil, no mesmo avião em que teria ido à Grécia.

Sobre esse incidente ouvi muita gente dizer muita coisa:
  • uns diziam que eu poderia sair do país, e que, quando voltasse, apresentasse documentos certificando que estudo numa universidade grega;

  • outros, que era só contactar a embaixada ou consulado no país de origem (no meu caso, o Brasil) e pedisse a eles um outro visto de entrada na Grécia;

  • que é possível sair do país por um mês em período de festas ou férias (natal/ano novo e verão).

Infelizmente:
  • Nadaver. Presenciei ao menos 4 casos de amigos meus aqui que caíram nessa conversa, e foram mandados ao país de origem no mesmo dia. Chegaram no aeroporto, apresentaram todos os papéis de que estudavam aqui, estavam legais, não faziam nada errado, tinha uma bolsa do ministério, e todos os argumentos que se possa imaginar. Não deu outra: sem o permit, não entra. Voltaram pra casa no mesmo avião em que vieram.


  • Nadaver. Meus pais tentaram conseguir um visto de entrada falando com alguém do consulado. Não adiantou: disseram que se eu já estava aqui, deveria tentar arranjar alguma coisa aqui. (O que, é claro, não aconteceu, já que falei com Deus e o mundo e nada deu certo)


  • É verdade. É possível. Mas é um pouco complicado viajar 16 horas para passar só uma semana, talvez duas (no caso de natal e ano novo), ou um mês (na verdade, 28 dias) e ter que voltar. Pra ir ao Brasil, tem que ser pelo menos uns 2 meses.

O resultado, no final das contas, é que não deu certo. Ainda estou à espera do permit - quem não tem passaporte europeu vai invariavelmente passar pela mesma situação caso venha à Europa pra ficar mais de 3 meses (ou 6 - eles dão a oportunidade de extender o visto de turismo para 6 meses, desde que você prove que tem dinheiro suficiente pra bancar a sua estadia no país). Ou seja, se você tem um avô, ou avó, da Espanha, Itália, Portugal, qualquer coisa... pode ir mexendo os pauzinhos aí pra conseguir um visto europeu, senão... é encarar - como diria MyCows - a vida dura. É pra tomar vários Dreher. :-)


O Parthenon de frente. Posted by Hello


.:E a Vida Atual?:.

E a vida atual? Pois é. Estou na facul, encarando as aulas, e, vou dizer - são difíceis. Bastante detalhistas e específicas. O material de que os gregos dispõem para História e Arqueologia (o curso que faço) é ridiculamente extenso. Para usar um termo grego, é homérico. Mas as aulas são verdadeiramente interessantes, e se o aluno tem interesse no assunto, é infalível: é quase impossível não prestar atenção às aulas.

Durante os meses de janeiro e fevereiro estarei em provas, o que quer dizer que estarei ocupado. Com exceção dos testes, entretanto, posso dizer que a vida vai bem. Ainda moro no mesmo apartamento - apesar de que pode acontecer de me mudar para os dormitórios da faculdade num futuro próximo - e tenho acesso à Internet (querendo mandar e-mail, pode escrever!). De vez em quando dou uma olhada no MSN, no Yahoo... raramente no ICQ.

Ah, mais uma coisa: fiz uma página, a Phosphoros, e um fórum chamado The Ancient Agora (a palavra em português se pronuncia "ágora"; em grego, "agorá") de História e Arqueologia (e, bom, de línguas também, já que são assuntos relacionados). É coisa recente.

A Ancient Agora foi feita porque procurei por fora (em português soa engraçado, mas "fora" é o plural de "forum" em Latim) sobre o assunto na Internet, e só achei dois - ambos de qualidade dúbia. Então achei que poderia criar algo de qualidade. É super recente, e ainda não tive tempo de fazer o "marketing", então... creio que demorará a crescer. Mas não tem problema. Minha opinião é a de que mesmo que haja somente 20 pessoas, se interessarem-se no assunto valerá a pena.

Quando à Phosphoros, a página foi feita porque aqui e ali eu tomo notas de alguns assuntos que estudo na faculdade, e pensei que seria legal fornecê-las "ao público", ou seja, coloca-las ao alcance de todos. Infelizmente, eu sempre escrevo ou em inglês ou em grego (meu português foi completamente relegado a conversas ou ao contato com pessoas de mesma língua que eu, o que raramente acontece), então leva um pouco de tempo para colocar as notas (ou textos, ou artigos) online porque não é só copiar, há que traduzi-las.

Mas não estou com pressa. A vida é bonita do jeito que é, vivendo cada dia. :-)

Até o próximo post!

Verberat nos et lacerat fortvna: patiamvr. Non est sævitia, certamen est, qvod qvo sæpivs adiermvs, fortiores erimvs.
- Seneca